terça-feira, 17 de julho de 2007

Exercício da medicina no Brasil – situação atual

Alceu José Peixoto Pimentel

No início do ano passado escrevi um artigo no Jornal Medicina no qual fiz uma avaliação do histórico da tramitação do PL 025/2002 – o conhecido projeto que visa regulamentar o exercício da profissão médica no Brasil – e procurei traçar, segundo o entendimento da Comissão Nacional em Defesa do Ato Médico, quais seriam as perspectivas esperadas na caminhada que iríamos fazer, durante aquele ano, objetivando a aprovação daquela importante matéria no Senado Federal, não somente para o conjunto dos médicos brasileiros, mas sobretudo para garantir à sociedade brasileira uma atenção à saúde de qualidade, onde as equipes multiprofissionais estejam completas, ou seja, contando com a participação essencial dos profissionais da medicina.
Dirijo-me, agora, aos colegas de todo o Brasil para dizer que, com o empenho e a determinação, mas, sobretudo, com o exemplo de unidade demonstrado por todos nós, através das nossas entidades representativas, conseguimos alcançar os objetivos almejados. É lógico que, em uma jornada tão cheia de imprevistos e dificuldade, contar com um pouco de sorte torna-se imprescindível. O Projeto de Lei de Regulamentação do Exercício da Medicina foi aprovado na Comissão de Assuntos Sociais e pela terceira vez no Senado, por unanimidade dos parlamentares presentes.
Este último elemento, o qual se configura como uma variável totalmente incontrolável – a sorte – se fez presente com a indicação de uma parlamentar extremamente competente e dedicada, a senadora pelo Estado de Goiás Lúcia Vânia, para desempenhar a função de relatora do projeto. Ela, com o auxílio de sua equipe técnica de alto nível, com dedicação e muita paciência, promoveu centenas de reuniões, onde conseguiu colocar à mesa, frente a frente, membros das comissões contra e pró a aprovação do projeto, que debateram de forma propositiva e responsável e, em virtude dessas negociações das quais participaram representantes de todas as demais profissões de saúde, foi elaborado um texto pactuado e que foi aprovado, por unanimidade e sem modificações, em duas votações que ocorreram na Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal. Vale salientar também que o Senador pelo Estado de Sergipe Valadares, então presidente daquela comissão, teve uma participação relevante, na medida em que sempre deu celeridade e prioridade na tramitação do Projeto de Lei.
Com a ida do projeto para a Câmara dos Deputados, onde o mesmo passa a ter o número 7703/2006, começaremos uma nova fase neste longo processo na busca de conseguirmos a desejada e necessária regulamentação da nossa profissão. Gostaria de deixar claro que não estamos buscando benefícios corporativos com esta legalização e sim garantir à comunidade que os seus direitos sejam garantidos, principalmente para aqueles que dependem, exclusivamente, dos serviços de saúde públicos. A Medicina como instituição já é possuidora de um reconhecimento público invejável, demonstrado por uma pesquisa do Ibope, na qual alcançamos o primeiro lugar sendo o nosso percentual maior que o obtido por uma instituição com a credibilidade que a igreja tem no seio da sociedade.
A nossa expectativa atual, quanto a tramitação do projeto na Câmara Federal, é a de que isto aconteça de forma tranqüila. Este sentimento baseia-se no fato de que o atual texto em sendo produto de um longo e árduo pacto, o qual produziu um texto onde existiu o mais amplo consenso possível. Como conseqüência, atualmente, existe uma nova correlação de forças entre as partes que, no passado, se debatiam em um processo que gerou muitos desgastes e incompreensões. Com certeza, não há mais um embate entre a Medicina contra as demais treze profissões da área da saúde.
Os médicos de todo o Brasil necessitam procurar informar todos os deputados dos seus estados que o texto é um instrumento produzido através de um grande acordo político e, dessa forma, conseguir convencê-los de votarem por sua aprovação sem modificações que possam produzir uma fissura política no grande acordo.
Portanto vamos todos, junto com a sociedade que, sem sombras de dúvidas nos apóia – fato este comprovado pelas quase um milhão e meio de assinaturas coletadas em todo Brasil, como também com o apoio dos companheiros das demais profissões da área da saúde que participaram das negociações –, continuar o trabalho que vem sendo desenvolvido na busca de que esta lei se torne uma realidade concreta.
Alceu José Peixoto Pimentel é Conselheiro Federal de Medicina pelo Estado de Alagoas e membro da Comissão Nacional em Defesa do Ato Médico

Fonte: Jornal de Brasília

Nenhum comentário: