sábado, 19 de maio de 2007

Superterceirização é tema de pesquisa

Os empregos terceirizados não param de crescer em todo o Brasil, com aumento de 300% nos últimos vinte anos, trazendo não apenas vantagens, mas desvantagens para o trabalhador. Essa é conclusão de um estudo encomendado à Unicamp pelo Sindeepres (Sindicato dos Empregados em Empresas de Prestação de Serviços). Trata-se da maior radiografia já realizada sobre o setor.

O levantamento revela que o número de terceirizados aumentou sete vezes no estado de São Paulo, entre 1985 e 2005. Nesse período, foram criados três milhões de empregos formais, sendo que 12% foram gerados nos empreendimentos envolvidos com a terceirização de mão-de-obra. O ritmo de crescimento das empresas de prestação de serviços foi ainda mais expressivo. No período, aumentou quase 25 vezes, passando de 257 para 6.308.

Segundo Márcio Pochmann, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (CESIT) da Unicamp e coordenador da pesquisa, a expansão da terceirização se deve a dois fatores, a partir do Plano Real, em 1994: “O setor privado passou a conviver com baixa inflação, mas influenciado por juros altos, valorização cambial e impostos. Além disso, as empresas brasileiras foram pressionadas pelo avanço da abertura comercial e financeira indiscriminada, sem mecanismos compensatórios adequados”, explica Pochmann. A terceirização foi o caminho mais fácil e imediato para diminuir os custos de contratação da mão-de-obra.

O setor público também teve participação nessa mudança nas relações de trabalho. As iniciativas de ajuste fiscal, como a privatização de estatais e a Lei de Responsabilidade Fiscal, apertaram o cinto das despesas públicas. "Como os estados, por exemplo, têm um limite a ser gasto com a folha de pagamento, optaram por terceirizar várias atividades", afirma o pesquisador. Por conta disso, recentemente, a terceirização não está somente nas áreas secundárias das empresas. A chamada "superterceirização", referente às funções principais, ganhou corpo. Em 1985, 2,9% dos terceirizados estavam nas atividades finais das empresas. Vinte anos depois, esse percentual foi de 41,9%.

A superterceirização apresenta vantagens para alguns como isenção de impostos e redução de gastos com direitos do celetista, como férias e décimo terceiro salário. Entretanto, ela precarizou postos de trabalho definidos por condições e relações de trabalho tradicionais. Além da renda menor, cerca de dois terços dos terceirizados estão em empresas há menos de um ano, o que mostra a alta rotatividade desse mercado. Como solução, Pochmann defende o avanço na regulação pública do trabalho: “A legislação precisa incluir diferentes modalidades de contratação e garantir um parâmetro mínimo para que todos possam ter seus direitos protegidos. Defendemos uma reforma trabalhista inclusiva, já que a terceirização de pessoas e empresas veio para ficar”.

Para o pesquisador do Instituto de Economia da Unicamp, Amilton Moretto, a terceirização é fruto da própria reorganização das empresas, graças à tecnologia e à abertura da economia: “Nos anos 90, houve reestruturação modernizadora e defensiva para redução de custos, além do avanço tecnológico. As conseqüências foram o desemprego e a terceirização, alternativa para que as empresas pudessem se ajustar à demanda, evitando estoques”, explica o pesquisador, que também enfatiza o enfraquecimento dos movimentos sindicais como resultado do processo.

Na opinião de Moretto, as pesquisas acadêmicas em trabalho são fundamentais e desafiadoras no cenário atual: “A pesquisa no Brasil é dificultada, pois há muita precarização e informalidade no trabalho, o que prejudica levantamento de dados. Mas é claro que a apreensão com a organização do mercado e as relações de trabalho é cada vez maior”. Entre as maiores preocupações dos estudiosos de economia, estão: o papel do sindicalismo frente aos trabalhadores terceirizados, a organização social para regular o trabalho, os impactos fiscais da terceirização no país, assim como a previsão das ocupações mais promissoras no futuro e a atuação do setor educacional nesse contexto.

Terceirização chega à pesquisa e desenvolvimento

A terceirização já atingiu também o setor de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no mercado globalizado, gerando emprego em países que investem na formação de pesquisadores. Os clientes desses serviços perceberam que podem economizar tempo e dinheiro ao utilizar o conhecimento de pesquisadores experientes espalhados pelo mundo e ainda facilitar o envio de novos produtos para o mercado.

De acordo com estudo da Forrester Research, a procura de empresas norte-americanas por serviços de P&D deve-se também a uma redução na oferta de talentos locais. Desde os anos 90, os PhDs em física e engenharia, por exemplo, diminuíram, respectivamente, 22% e 15%. Cada vez menos cientistas estudam e trabalham no próprio país. Em conseqüência disse cresce a terceirização e contratação de P&D no exterior.

No Brasil, a onda de terceirização nesse segmento abre portas para as universidades, institutos de pesquisa e pequenas empresas prestadoras de serviços de alta tecnologia concorrerem na busca de participação em projetos de empresas globais. Os serviços terceirizados de P&D competem com os tradicionais convênios firmados entre empresas e universidades. Por meio deles, empresas como a IBM desenvolvem produtos com baixo custo, formam especialistas e selecionam talentos.


Por Luiza Bragion
17/05/2007

publicado na Revista Eletrônica de Jornalismo Científico

http://www.comciencia.br/

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