quarta-feira, 18 de julho de 2007

Servidores federais preocupados com mudança

Servidores públicos federais temem que as mudanças na carreira abram brecha para a privatização da administração do funcionalismo público

A proposta de criar fundações estatais para administrar setores do funcionalismo público preocupa servidores públicos e provoca divisão até dentro da própria bancada governista no Congresso Nacional. Por meio das fundações, de direito público ou privado, o Governo pretende flexibilizar as relações trabalhistas e as regras de licitação em nove setores da administração pública. Em alguns casos, o novo modelo ameaçaria a estabilidade no emprego público. O Projeto de Lei Complementar, de autoria do Ministério do Planejamento, em parceria com o Ministério da Saúde, foi enviado, na semana passada, ao Congresso.
Na prática, o projeto permite a contratação de funcionários de acordo com regras da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), retirando sua estabilidade e criando remuneração vinculada ao desempenho. Para o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, a fundação estatal vai permitir que o Estado tenha sua capacidade ampliada, além de ter condições de qualificar seus serviços à população. O ministro defendeu que a nova tecnologia de gestão vai garantir eficiência e rapidez nas atividades das instituições federais.
Não é que pensa o setor sindical. Para o coordenador-geral do Sindicato dos Servidores Federais no Ceará (Sintsef), Roberto Luque, o projeto é mais um caminho para a privatização do serviço público. "A qualidade do atendimento e da mão-de-obra vão abrir brecha para o clientelismo político. Os servidores vão ficar à mercê de políticos", acrescenta. Investimento no setor público seria a melhor proposta para agilizar a máquina estatal, segundo o coordenador.
O setor da saúde deve ser o primeiro a fazer parte do novo modelo de gestão. A proposta englobaria, inicialmente, os 10 hospitais subordinados ao ministério, além dos 48 hospitais universitários de instituições federais. Um deles é o Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), vinculado à Universidade Federal do Ceará (UFC).
A 1ª secretária do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) e professora da UFC, Maria do Céu de Lima, ressalta que é preciso centrar o debate em torno da função da instituições públicas. No caso dos hospitais universitários, ela destaca que eles têm a atribuição, também, de formar profissionais. Com a contratação de funcionários pelas regras da CLT, a vinculação de estudantes universitários nas atividades do hospital poderia ficar comprometida. "Os hospitais são importantes para a formação de profissionais e garantir serviço a comunidades que não podem pagar pelo serviço de saúde", defendeu a sindicalista.
No Congresso, as opiniões também divergem da proposição do Governo. O projeto foi criticado, ontem, pela liderança do PSDB na Câmara dos Deputados. O chefe da assessoria técnica da bancada tucana, Wilson Calvo, disse que o partido estuda duas alternativas: solicitar a simples retirada da proposta, ou, se isso não for possível, apresentar emendas ao projeto que possibilitem "amarrar" as novas normas para a contratação de funcionários.
A proposta é polêmica até para a base governista. O deputado federal Chico Lopes (PCdoB), diz, que, "em princípio", é contra o projeto. "Ninguém está achando isso uma idéia brilhante. Não vejo motivo nenhum para ser a favor dessa experiência público-privada", afirma o deputado. Já o deputado federal José Pimentel (PT) afirma que só deverá manifestar um posicionamento após ler o projeto.
Fonte: O Povo

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