sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Escola sem aula expõe as crianças ao trabalho

Mais do que deixar fora da sala de aula 38 mil estudantes da rede municipal, a greve por tempo indeterminado dos professores em Vitória da Conquista (a 509 km de Salvador, no sudoeste) está expondo crianças ao trabalho infantil. Sem atividades há mais de uma semana, crianças aproveitam para ajudar no sustento da família, como um garoto, de 14 anos, que cumpre jornada diária de 11 horas como ajudante de pedreiro.

O descanso de uma hora é conciliado com o almoço, “engolido” às pressas para, segundo o pai, não atrasar a obra. Antes das 8 horas, o menino está em ação, transportando a massa num carrinho de mão, às 7, e só vai para casa no fim da tarde, conta. Os nomes são omitidos para preservá-los.
A dura rotina ocorre todos os dias, de segunda a sexta-feira. “Já estou acostumado”, sintetiza. Por conta desse “hábito”, a mão-de-obra adulta explora a criança aos sábados, das 7 ao meio-dia e, às vezes, aos domingos. A precocidade não incomoda o garoto, que parece aprovar a interrupção forçada nos estudos. Filho mais velho de seis irmãos, o estudante – que reside no bairro Santa Teresinha, periferia da cidade – desde cedo sabe a responsabilidade que pesa sobre seus ombros.

“Tenho que trabalhar pra ajudar meu pai, que sofre da coluna”, tenta justificar. Um vendedor de doces, 12 anos, outra criança atingida em cheio pela falta de aulas na rede municipal provocada pela “queda-de-braço” entre prefeitura e professores. Mesmo tendo que trabalhar pela manhã, no turno oposto ao do horário escolar, a criança agora aproveita para tentar faturar uns trocados a mais.

O mesmo faz outro estudante menor de idade, que expõe a saúde ao risco na cata de material reciclável no lixo da Central de Abastecimento. Em meio ao “tiroteio” verbal, professores e município não comentam o quadro, nem cogitam sobre a elaboração do calendário de reposição de aulas.

Rebaixamento
Sem avanço nas negociações com o município, 1,7 mil professores cruzaram os braços. O protesto, segundo o Sindicato do Magistério Municipal Público (Simmp), é pela mudança nos cálculos dos salários. “O movimento grevista tem como justificativa a mudança na base de cálculo do salário dos professores, reduzindo os valores dos contracheques de acordo com o tempo de serviço”, informa a diretora do Simmp, Geane Oliveira.

A questão gira em torno do que o sindicato classifica de “rebaixamento salarial”. O diretor sindical Lourival Ferreira Júnior sustenta que o município adotou uma nova base de cálculo que reduziu os salários, extraindo valores que variam de R$ 10 a R$ 400, “o que resultaria num montante superior a R$ 1,5 milhão por ano”. Embora reconheça, o rebaixamento salarial nos contracheques dos professores, a prefeitura contesta esses valores. Segundo o secretário de Administração, Boaz Rios, a prefeitura verificou uma distorção na folha de pagamento, corrigindo-a para evitar problemas futuros.

Fonte: A Tarde

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