sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Mulher no trabalho

O que dizia a reportagem de VEJA
De março a setembro de 1977 uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, criada pelo Congresso para examinar a situação da mulher na sociedade brasileira, promoveu vinte reuniões e coletou 35 depoimentos. Na dia 5 de outubro de 1977, a divulgação do relatório de 134 páginas com as conclusões da CPI, elaborado pela deputada Lígia Lessa Bastos (Arena-RJ), a única mulher do Congresso, acabou demonstrando que as brasileiras convocadas para depor tinham algo a dizer – e, sobretudo, muito a reivindicar. “É indisfarçável a existência da discriminação contra a mulher em quase todos os setores da atividade humana que compõe o mecanismo da sociedade brasileira”, conclui o relatório. A força desse preconceito se manifesta especialmente no mercado de trabalho. Segundo o censo de 1970, o Brasil conta com 44,8 milhões de mulheres. A taxa brasileira de participação feminina na população economicamente ativa é calculada em 17,9%. Excetuando-se certos casos atípicos, a verdade é que a mulher brasileira tem tradicionalmente menos chances de escalar degraus hierárquicos no emprego. Baseada nos mesmos raciocínios que contestam a existência de "atividades masculinas", as mulheres rejeitam com veemência a teoria de que certas profissões deveriam ser exclusivamente reservadas à mão-de-obra feminina.
O que aconteceu depois
Trinta anos depois da reportagem de VEJA, as mulheres brasileiras romperam com boa parte dos laços que as impediam de ganhar espaço no mercado de trabalho. As conquistas foram muitas mas, mesmo assim, ainda é um pouco arriscado falar em igualdade. Segundo dados do IBGE, elas já são mais da metade da população brasileira –- 96 milhões, contra 91 milhões de homens. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) divulgada em 2007 revelou que, em 2006, o total de mulheres empregadas no Brasil atingiu 42,6 milhões, quase o total da população feminina brasileira em 1970.

O número representa 43,7% dos 97,6 milhões de pessoas economicamente ativas no país. Embora os homens ainda estejam na frente, a presença delas segue em crescimento continuo. Dos 10,1 milhões de postos de trabalho abertos no Brasil na década de 90, quase 7 milhões foram ocupados por mulheres. De setembro de 2005 ao mesmo período de 2006, segundo revelou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, 2,1 milhões de pessoas entraram no mercado brasileiro de trabalho. Neste montante, a participação das mulheres cresceu 3,3%, enquanto os homens registraram crescimento de 1,82%.

Durante estes trinta anos, matérias de VEJA apontaram vitórias importantes, principalmente em territórios antes dominados pelos homens. Em 1997, nos doze colégios militares do país, 80% dos estudantes que alcançaram o título máximo de aluno-coronel eram mulheres. Em 2002, elas já representavam 44% dos advogados, 40% dos médicos e 56% dos arquitetos. Em 2007, 40% das vagas de juiz do trabalho foram ocupadas por elas. O avanço ainda é tímido em outras áreas –- como na política. A maior presença em cargos como ministras, deputadas e senadoras, mesmo em quantidade abaixo do considerado equalitário, ao menos não aponta retrocessos.

A questão salarial também caminha com certa velocidade. Em 1989, o rendimento da mulher era equivalente a menos da metade do que o homem ganhava. Em 1996, elas recebiam 58,7% do salário masculino e, em 2006, passaram a ganhar 65,6% do rendimento médio dos homens. A disparidade entre os salários ainda é uma realidade, e está mais presente em empregos de menor remuneração, ou que não permitam aos dois sexos competirem de forma direta. Já no mercado empresarial, quanto mais elas sobem na carreira, mais próximo chegam da igualdade dos salários. Principalmente porque o amadurecimento da economia do país –- e da competição entre as empresas -– fez o fator sexo perder peso na hora de buscar os melhores profissionais.

Elas também avançaram no acesso à educação e na busca por capacitação. Em 2006, quase 43,5% da população feminina brasileira tinha concluído o ensino médio, enquanto apenas um terço dos homens possuía esse grau de instrução, segundo números do Pnad. Em 2004, VEJA mostrou que, de cada 100 alunos matriculados em universidades brasileiras, 56 eram mulheres. Naquele ano, havia cerca de meio milhão de mulheres a mais do que os homens nos campi universitários -- 63% dos diplomas concedidos em 2004 foram para mãos femininas.

Fonte: Veja Online

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