quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Desemprego deve crescer no mundo

OIT prevê desaceleração da economia mundial com fechamento de 5 milhões vagas este ano. Se crise atingir a Ásia, número pode ser pior
O alastramento da crise norte-americana pode resultar no aumento do desemprego mundial. Pelo menos 5 milhões de postos de trabalho deixarão de ser criados este ano em função das turbulências internacionais, segundo estimativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A projeção é feita considerando um crescimento de 4,8% da economia mundial, contra 5,2% registrados no ano passado. Mas a difusão dos efeitos da crise podem reduzir ainda mais a expansão da economia e fechar um volume maior de postos de trabalho. O principal receio é que a turbulência atinja os países asiáticos, onde a geração de emprego continua intensa. “Essa projeção foi feita numa primeira estimativa do que pode ser a crise. Se enfrentarmos um cenário mais difícil pode aumentar ainda mais o número de novos desempregados. O pior se dará se o desempenho na Ásia não for tão bom”, afirma a coordenadora do Projeto de Políticas de Emprego e Igualdade de Oportunidades da OIT, Solange Sanches.
Mesmo com a perda das 5 milhões de vagas, a OIT estima que 40 milhões de empregos sejam gerados. Em 2007 foram 45 milhões de novos contratados em todo o mundo. A taxa de desemprego ficou em 6% no ano e só não foi menor em função do crescimento da População Economicamente Ativa, segundo Solange. No fechamento de 2007, 189,9 milhões de pessoas em todo o mundo estavam desempregadas, 2,9 milhões a mais que em 2006. Apesar do incremento, o volume de empregados atingiu o melhor resultado já verificado, segundo a organização. Atualmente cerca de 3 bilhões de pessoas estão trabalhando
O problema, aponta o relatório, é a qualidade desses empregos. De acordo com os dados da OIT, uma em cada 10 pessoas tem emprego vulnerável, sem garantias trabalhistas e com baixa remuneração. Do total de ocupados em todo o mundo, 16% sobrevivem com menos de US$ 1 por dia. Expandindo para US$ 2 diários, o volume salta para 43% dos trabalhadores. “Estamos vivendo a possibilidade de uma crise mundial e é preciso garantir que os efeitos sobre o mercado de trabalho sejam os menores possíveis”, afirma Solange.
O impacto da crise na geração de emprego não divide especialistas. Segundo Solange, as condições brasileiras para enfrentar uma crise minimizam os riscos de fechar vagas. Mas a preocupação prioritária, na sua opinião, deve ser a formalização dos postos de trabalho. “No Brasil, temos que cuidar para que continuemos a reduzir a informalidade e melhorar a renda”, afirma. O diretor de estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), João Sicsú, concorda. Segundo ele, o Brasil pode driblar bem o cenário de dificuldades e a trajetória de empregos não deve ser afetada. “Haverá muito PAC na rua em 2008. Haverá também continuidade da implementação das decisões privadas já tomadas em 2007. A nossa preocupação deve ser com 2009 se o cenário internacional de fato for profundamente negativo, o que não acredito”.
Analista da consultoria Tendências Cláudia Oshiro acredita que a criação de empregos será menor neste ano independentemente do cenário internacional, mas o agravamento da crise norte-americana poderá contribuir ainda mais para uma redução. “A geração de emprego no Brasil será menor de qualquer forma em função de uma desaceleração da economia que já está sendo prevista. Não é que teremos demissões, mas não teremos um ano tão bom quanto 2007. Para piorar precisamos ver como está a confiança dos empresários brasileiros para projetar o impacto da crise na economia”, afirma.
Correio Braziliense

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