terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Empregos baratos

Criação de vagas formais e rotatividade maiores entre empregados menos escolarizados deveriam incentivar o treinamento
Reportagem publicada pela Folha de S. Paulo no domingo revelou que, por trás dos números recordes de geração de empregos formais no governo Lula, predomina a abertura de vagas mais mal remuneradas para trabalhadores menos escolarizados. Na contramão, os postos para funções que exigem maior nível de ensino e, conseqüentemente, melhor remuneração tendem a encolher.
Entre 2003 e 2006 houve uma preponderância de novas vagas com carteira assinada para cargos como o de vendedor no comércio varejista, trabalhadores em linhas de produção e auxiliares de escritório. A função de servente de obra também está em alta, refletindo o recente boom na construção civil.
Já os cortes de postos de trabalho foram mais acentuados entre supervisores administrativos e gerentes de lojas e supermercados. O mesmo aconteceu com outras funções de chefia, como a de inspetor.
Cabe lembrar aqui a existência de forte tendência no mercado de substituir vagas formais nessas "funções-meio" por prestadores de serviço. Em muitos casos, o próprio funcionário sai da formalidade e abre uma empresa para prestar serviços ao empregador em troca de rendimento maior -possível com a economia de encargos trabalhistas antes pagos ao governo.
A tendência de maior abertura de vagas em profissões que exigem menor escolaridade segue o perfil socioeconômico do Brasil. Segundo dados do Datafolha, quase a metade dos brasileiros (49%) a partir de 16 anos de idade estudou só até o ensino fundamental. Desses, a maioria (59%) acaba conseguindo obter uma renda familiar mensal que não ultrapassa os dois salários mínimos (R$ 760).
Em contrapartida, entre os 10% de brasileiros que cursaram (ou cursam) o ensino superior, só 12% têm renda familiar de até dois mínimos, e 25% conseguem uma renda familiar acima de dez salários mínimos (R$ 3.800).
A criação de vagas formais bateu novo recorde no ano passado, com um saldo positivo de 1,6 milhão de empregos com carteira assinada. Segundo dados do Ministério do Trabalho, a rotatividade no mercado também é maior justamente entre os profissionais menos escolarizados e mais mal remunerados.
Levando em conta que o Brasil é um país pobre -e que deveria ter como prioridade a melhora na distribuição da renda-, além de proporcionar condições macroeconômicas que encorajem a criação de empregos, outra meta da política pública deveria ser a de utilizar verbas já disponíveis para o treinamento dessa mão-de-obra menos qualificada. Não é raro observar diariamente no setor de serviços, por exemplo, a precariedade do atendimento oferecido ao público.
Para isso, o governo não só já dispõe de recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) como deveria incentivar entidades como Sesc e Senai a massificar programas de treinamento.

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