segunda-feira, 31 de março de 2008

BC já dá mais atenção a taxa de desemprego

O Banco Central divulgou pela primeira vez os seus cálculos sobre a chamada taxa natural de desemprego, que é o nível mínimo de desemprego que a economia pode suportar sem provocar a aceleração da inflação. O indicador é estimado segundo várias metodologias diferentes, e, em geral, fica entre 7,4% e 8,5%.

Se os cálculos do BC estiverem certos, a taxa de desemprego ainda não caiu abaixo da taxa natural de desemprego. Mas está muito perto dela. Em fevereiro, a taxa de desemprego divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi de 8,7%, e o índice dessazonalizado ficou em 8,8%, segundo a consultoria Rosenberg & Associados. A expectativa do BC é que, devido ao forte aquecimento da economia, o desemprego siga caindo.

De um ano para cá, o BC passou a dar maior importância ao mercado de trabalho na definição da política monetária. Nos últimos anos, argumenta a autoridade monetária, aumentou a participação dos serviços no Produto Interno Bruto (PIB). Quando a economia brasileira era predominantemente industrial, o grau de utilização da capacidade de produção da indústria era um bom indicador dos limites do crescimento. Nos serviços, o principal insumo é a mão-de-obra, por isso a taxa natural de desemprego é considerado um indicador de quando a expansão da economia bate no limite.

Os economistas ortodoxos acreditam que, se a taxa de desemprego cai abaixo de determinado patamar - a taxa natural de desemprego -, aumentam as pressões dos trabalhadores por reajustes salariais. A preocupação é quando os reajustes ficam acima do aumento da produtividade da economia, pois nesses casos as empresas são obrigadas a repassar os aumentos de salários para os preços.

"As taxas de desemprego devem manter trajetória declinante ao longo dos próximos trimestres, o que poderia ensejar a emergência de pressões por elevações salariais mais expressivas", diz o relatório de inflação, divulgado semana passada.

Em um anexo ao relatório, o BC reconhece que o cálculo da taxa natural de desemprego é um terreno pantanoso - sujeito às mesmas restrições e fragilidades que, por exemplo, o cálculo do chamado hiato do produto, que é uma medida mais ampla do quanto a economia como um todo pode crescer sem acelerar a inflação.

Um dos problemas é que a taxa natural de desemprego muda no decorrer do tempo. Dois fatores principais podem afetá-la: a regulação do mercado de trabalho e fatores demográficos, que determinam o aumento da oferta de mão-de-obra. Nos anos 1990, quando o BC dos Estados Unidos era presidido por Alan Greenspan, houve um intenso debate sobre se as inovações tecnológicas, como a internet, não teriam reduzido a taxa natural de desemprego naquele país.

O Brasil teve nas últimas décadas uma economia bastante instável, o que enche de ruídos as séries históricas. Além disso, dependendo da metodologia, os números podem variar um pouco. Usando uma série estatística que vai de 1986 a 2006, o BC acha em seus trabalhos uma taxa natural de desemprego de 7,4%. Mas os números são jogados para baixo no período logo após o Plano Real, lançado em 1994, quando o câmbio valorizado fez com que a inflação ficasse em baixos patamares. Se esse período for excluído dos cálculos, a taxa natural de desemprego vai para 9,9%. Cálculos feitos pelo economista Tito Nícias da Silva Filho, do BC, tomando o período entre 1996 e 2006, acham taxas naturais de desemprego entre 7,5% e 8,5%.

A mensagem geral é que, mesmo não sendo possível determinar com exatidão a taxa natural de desemprego, sabe-se que, depois de quedas fortes nos últimos anos, a taxa de desemprego chegou a um patamar que, na visão do BC, merece um acompanhamento mais próximo.

Valor

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