segunda-feira, 28 de abril de 2008

A barreira da informalidade

Marcelo Tokarski - Da equipe do Correio

Criação de 6,8 milhões de vagas formais desde 2003 e redução da taxa de desocupação para 8,6% são incapazes de incluir o Brasil entre os países com pleno emprego. Metade da mão-de-obra ocupada não tem carteira assinada

O Brasil nunca gerou tantos empregos. A trajetória de crescimento iniciada em 2004 vem abrindo vagas em todos os setores da economia, da indústria à construção civil. Desde o início do atual governo, foram criadas mais de 6,8 milhões de vagas com carteira assinada, média um pouco superior a 3,5 mil empregos gerados por dia. A taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do país em março foi de 8,6%, o mais baixo índice já registrado neste período. A taxa média do 1º trimestre vem caindo desde 2004, quando estava em 12,1%, e hoje encontra-se no inédito patamar de 8,4% (veja gráfico ao lado).

No entanto, o Brasil ainda está longe de atingir o chamado pleno emprego, situação em que todas as pessoas que desejam trabalhar estão empregadas. Nesses casos, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a taxa de desocupação fica entre 3% e 5%, no máximo. Na avaliação de especialistas consultados pelo Correio, o Brasil até reúne condições de atingir um desemprego entre 5% e 6% ao longo dos próximos anos, mas o alto grau de informalidade do mercado de trabalho impedirá que o país ingresse nesse seleto grupo de países de baixo desemprego, como Estados Unidos, Coréia do Sul e muitas nações européias.

Hoje, apesar da recuperação do emprego formal, praticamente metade da mão-de-obra ocupada no país não tem carteira assinada, situação incompatível com um contexto de pleno emprego. “Pleno emprego para nós brasileiros é algo muito complexo. Precisaríamos atingir uma taxa baixa (de desocupação), de no máximo 5%, e também teríamos que registrar uma forte redução da informalidade para algo entre 20% e 30%, no máximo”, explica Cláudio Salvadori Dedecca, professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Precisamos considerar que nos países onde há pleno emprego, a informalidade é próxima de zero.”

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, ressalta que a atual taxa de desemprego (de 8,6%), embora esteja em forte trajetória de queda, ainda é muito elevada. “Vale lembrar que, em 1989, o desemprego era de 2,7%. Para que ele caia ainda mais, precisaríamos de um sistema público de emprego mais eficiente e de um nível educacional mais alto”, defende. “Apenas 20% dos desempregados têm alguma qualificação. Significa dizer que 80% deles têm muito dificuldade para encontrar uma ocupação.”

Pochmann ressalta ainda que os indicadores de pleno emprego (desocupação entre 3% e 5%) foram concebidos para economias desenvolvidas, com mercado de trabalho estruturado e sem informalidade. Para o presidente do Ipea, a informalidade é estrutural. “Hoje, a informalidade ainda é uma estratégia de sobrevivência de quem é excluído do mercado de trabalho devido à idade ou ao baixo grau de instrução. Muito poucos são informais por opção”, afirma.

Nenhum comentário: