quarta-feira, 9 de abril de 2008

Salários não pressionam os preços

Segundo o IBGE divulgou ontem, o emprego industrial em fevereiro cresceu 0,6% sobre janeiro, na série com ajuste sazonal, e 3% no primeiro bimestre sobre igual período do ano passado. E os dados do IBGE mostram que o valor da folha de pagamentos real dos trabalhadores da indústria ficou estável em relação ao mês anterior.

Dados os rumos da inflação, essa estabilidade da folha de salários parece indicar que os trabalhadores não estão pressionando muito as empresas para obter um aumento defensivo contra uma eventual queda do seu poder aquisitivo.

As autoridades monetárias deveriam levar em conta essa situação, no momento em que vão ter de decidir, diante das pressões inflacionárias, se devem ou não optar por um aumento da taxa Selic.

Num artigo no jornal Valor, o professor Yoshiaki Nakano mostrou que, no contexto atual, um aumento da taxa de juros no Brasil, por maior que seja, será incapaz de conter as pressões inflacionárias globais.

A inflação, hoje, é um fenômeno mundial e o Brasil até que se encontra em posição confortável. Segundo The Economist a taxa anual média de inflação em 41 países é de 5,19%, enquanto no Brasil é de 4,6%.

Não se está percebendo, em nossa economia, nenhum impulso de inflação de demanda ou de choque de oferta. O consumo cresceu 6,5% e os investimentos aumentaram 13,4% em 2007, e, neste ano, tudo indica que os aumentos dos investimentos serão ainda maiores do que em 2007.

O BC precisa levar em conta que o aumento dos preços dos produtos importados, que se observa neste momento, na ausência de aumento real dos salários, acarretará uma redução da demanda por bens e serviços, e se se registra alguma pressão maior na inflação, sua fonte não está no mercado interno, o que torna, pois, sem efeito, a elevação da taxa Selic.

Convém considerar também que, se os salários reais aumentam, a produtividade apresenta um crescimento maior, afastando a possibilidade de choque de oferta. Pode-se, pois, subscrever o que diz o economista-chefe da Itaú Corretora, Guilherme da Nóbrega: “Neste momento, é prudência suficiente manter o juro parado.”

Uma elevação da taxa Selic, não terá efeito sobre uma inflação que vem de fora, mas poderá contribuir para enfraquecer a atividade econômica interna num momento em que ela resiste aos efeitos da crise norte-americana.

Estado de S.Paulo

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