quinta-feira, 12 de junho de 2008

BC teme pressão de salários

INPC, referência para maioria dos sindicatos na negociação com os patrões, dispara em maio para 0,96%. Reajustes são forte componente na alta da inflação. Em Brasília, índice fica em 0,94%

O Banco Central recebeu ontem mais um sinal de alerta do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), referência para a maioria dos sindicatos nas negociações salariais, disparou e fechou maio em 0,96%, acumulando alta de 3,32% no ano e de 6,64% em 12 meses. O BC teme que, com a inflação nesses níveis, as categorias mais organizadas — quase todas, com datas-base marcadas para o segundo semestre do ano — pleiteiem reajustes maiores, jogando mais gasolina no aumento de preços. Segundo técnicos do BC, os reajustes salariais pressionam a inflação de duas formas. Primeiro, porque aumentam o poder de compra dos trabalhadores, que aceitam pagar mais caro pelas mercadorias que consomem. Segundo, porque, ao darem reajustes maiores, as empresas os repassam para os preços.

Os técnicos do BC ressaltam que a instituição não é contra as correções de salários. Muito pelo contrário. O banco tem ressaltado a importância da recomposição do poder de compra dos trabalhadores como fundamental para sustentar o crescimento da economia. O problema, neste momento, é que as negociações salariais podem resultar em uma bola de neve, em realimentadoras da inflação, tornando ainda mais complicado o controle dos preços. A preocupação do BC com esse item é tamanha, que a instituição montou um grupo só para monitorar os resultados das negociações salariais e medir como elas têm influenciado o consumo e a inflação.

“Trata-se de um ponto importantíssimo em períodos em que a inflação recupera o fôlego e exige um aperto monetário, como o que estamos assistindo”, disse o economista Cristiano Souza, do Banco Real. O que pode jogar a favor do BC é o esperado desaquecimento da economia a partir do segundo semestre. Com um nível de atividade mais moderada, os trabalhadores reduzem as pressões por reajustes mais fortes temendo a perda do emprego.

Alta em Brasília Segundo Irene Machado, gerente de Pesquisa de Preços do IBGE, como em todos os índices, o INPC foi empurrado para cima pelos alimentos, com alta de 2,19%. “Percebemos isso em todo o país”, disse. Em Brasília, o INPC, que mede o custo de vida das famílias com renda mensal de até seis salários mínimos (R$ 2.490), ficou ligeiramente abaixo da média nacional: 0,94%. O mesmo ocorreu com o IPCA, que cravou alta de 0,76% no mês passado, contra 0,79% do país. Apesar disso, a sensação entre os consumidores de corrosão no poder de compra não é menor.

A vendedora Bianca Martinez, 27 anos, afirmou que foi obrigada a mudar os hábitos para adequar seu orçamento à alta dos preços. Ela passou a levar o almoço de casa para o trabalho. “Já fui muito consumista. Mas, hoje, só compro quando preciso e sempre procuro a opção mais barata”, contou. Sem saber aonde os preços vão parar, ela teme ser obrigada a apertar ainda mais o cinto. Como recebe um salário fixo pequeno e uma premiação mais significativa pelas metas atingidas, torce para que o consumo não caia em Brasília. “Se diminuir, o salário dos vendedores cairá junto”, assinalou.

Fátima de Assunção Monteiro, 25, também está assustada com o dragão que se pensava domado. Ela e o marido sustentam uma casa com seis pessoas e têm de se esforçar para pagar as despesas. O jeito foi trocar todas as marcas das comidas pelas mais baratas. Foi o caso das carnes. Só as de segunda vão agora para a mesa da família. “Estamos no limite. Nem posso pensar em nova subida de preço”, disse.

IPCA nas capitais

Índice de Preços ao Consumidor Amplo em maio - (Em %)

Goiânia - 1,26
Recife - 1,12
Curitiba - 0,95
Porto Alegre - 0,89
Belo Horizonte - 0,76
Brasília - 0,76
Fortaleza - 0,66
Rio de Janeiro - 0,64
São Paulo - 0,43
Salvador - 0,37
Belém - 0,25

Correio Braziliense

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