segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Mais emprego formal

Marcelo Tokarski
Os bons números da economia nacional já se refletem no mercado de mão-de-obra. Todos os postos abertos, em agosto, nas seis principais regiões metropolitanas do país foram com carteira assinada
Mesmo sem nenhuma mudança na legislação trabalhista, apontada pelo empresariado como o maior entrave à criação de empregos no país, o mercado de trabalho brasileiro superou a década de 90 e hoje vive um ciclo de expansão das vagas com carteira assinada. O ritmo de criação de postos formais é duas vezes maior que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas no país. A velocidade é tão alta que chegou a ponto de, em agosto, todos os novos empregos criados nas seis maiores regiões metropolitanas do país — Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre — terem sido formais.
Simulações feitas com base nos dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a participação desse tipo de ocupação no total de empregos criados vem crescendo desde abril, quando estava em torno de 55% (veja quadro). Nos últimos 12 meses, o emprego com carteira aumentou 5,6%, com a criação de 619 mil vagas, média de quase 1,7 mil postos formais por dia. No mesmo período, o mercado informal fechou 85 mil vagas, um recuo de 1%.
Nos últimos cinco anos, o desempenho é ainda mais robusto. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o total de empregados com carteira assinada cresceu 20,6% (mais 1,975 milhão de vagas), quase o dobro dos 12% de aumento das vagas sem carteira(mais 900 mil). Significa dizer que, para cada posto de trabalho informal, foram criados mais de dois formais. Para estudiosos do mercado de trabalho, o comportamento dos indicadores mostra que o crescimento da economia tem sido suficiente para driblar o principal obstáculo à carteira assinada: a pesada carga tributária incidente sobre o custo de um trabalhador, que ultrapassa 100% do salário.
Recuperação
Para o professor Carlos Alberto Ramos, da Universidade de Brasília (UnB), o principal responsável pela recuperação do emprego formal é mesmo o desempenho da economia. “O mercado de trabalho está melhorando em quantidade e qualidade, mesmo sem uma reforma trabalhista e dentro de um contexto de forte crescimento do salário mínimo, que, em princípio, poderia inibir novas contratações. Esse comportamento não era esperado”, afirma. Segundo o economista, entre 1994 e 1998, enquanto o PIB cresceu em média 3,5% ao ano, o emprego formal registrou expansão de apenas 0,25%/ano. No período 1999-2006, a curva se inverteu. O PIB se expandiu 2,7% ao ano, enquanto o emprego formal cresceu médios 4,52%.
O boom da carteira assinada no país vem mudando a vida de pessoas como o vendedor Daniel Cardoso Ribamar, de 28 anos. Há dois anos, ele foi demitido da concessionária de veículos onde trabalhava. Ficou desempregado por pouco mais de um ano, quando conseguiu uma vaga temporária, sem carteira, como vendedor em uma empresa de cartões de crédito. Depois, passou mais de três meses novamente sem ocupação. “Ficar desempregado é como se você não existisse. Você fica sem motivação, não consegue comprar nada. É muito estressante”, relembra Ribamar, que se viu obrigado a trancar o curso de direito para colocar comida em casa.
Em agosto, ele foi contratado, com carteira assinada, como vendedor pela multinacional alemã Wurth. “Fiquei dois anos sem carteira assinada. É muito ruim, você não tem cobertura da Previdência nem plano de saúde”, afirma. Além de ganhar duas vezes mais do que recebia como empregado temporário, o vendedor ressalta a importância da carteira assinada para garantir direitos trabalhistas, como 13º salário e férias. “A carteira dá uma tranqüilidade bem maior”, resume.
Nova era
Na avaliação dos especialistas, outro fenômeno que favorece a criação de empregos é a baixa produtividade da economia brasileira. Sem ganhos de eficiência, as empresas precisam de um número maior de empregados para aumentar a produção. “Na década de 90, tivemos uma queda muito grande no volume de mão-de-obra. Agora, as empresas estão sem gordura de mão-de-obra, por isso o emprego cresce tão rápido”, explica o professor Cláudio Salvadori Dedecca, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Segundo ele, como as empresas não conseguem aumentar a produtividade de uma hora para outra, precisam contratar para aproveitar oportunidades. Com isso, explica Dedecca, todo aumento do PIB resulta em aumento do emprego, o que não ocorria antes. “Na verdade, o emprego formal está crescendo duas vezes mais que o PIB”, afirma. “Esse desempenho do mercado de trabalho contraria todo o argumento catastrofista da década de 90, quando se dizia que o emprego formal ia praticamente acabar no Brasil.” No entanto, ele acredita que esse é um fenômeno passageiro. “A partir de 2008, o crescimento do emprego formal deve se aproximar do desempenho do PIB, o que não será nada ruim.”
Fonte: Correio Braziliense

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