segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Mais dinheiro no bolso

Este ano, pagamento do 14º salário terá crescimento de 20%, devendo atingir R$6 bi
O bom momento da economia brasileira, que cresce a um ritmo superior a 5%, proporcionou mais do que aumento de emprego e salário ao trabalhador brasileiro. Com os ganhos cada vez maiores das empresas, o pagamento de Participações nos Lucros e Resultados (PLR), ou décimo quarto salário, nunca foi tão grande, com expansão de 20% em relação ao ano passado. Só com grandes empresas, segundo pesquisa inédita feita pelo Grupo de Permuta de Informações Salariais (Grupisa), entidade que reúne profissionais da área de recursos humanos, o desembolso deve chegar a R$6 bilhões ao longo deste ano, beneficiando cerca de três milhões de trabalhadores.
O número pode subir para R$20 bilhões se forem somados também os pagamentos de bônus ou remunerações variáveis - que não fazem parte da PLR e, normalmente, são destinados apenas aos cargos de chefia. Diante do cenário mais positivo, os sindicalistas já avisam que a PLR vai ser tornar uma das principais moedas de negociação daqui para frente.
- A PLR tem mais importância agora porque os lucros dos bancos cresceram muito. Queremos mais remuneração - adianta o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Luiz Cláudio Marcolino.
Só referente a 2007, as instituições financeiras vão pagar pelo menos R$3 bilhões com o décimo quarto salário à categoria, uma das poucas que consegue fechar acordo coletivo nacional. O valor, segundo Marcolino, é pelo menos 20% maior que o do ano anterior, sem contar a remuneração adicional que parte dos bancários recebeu ao negociar com seus empregadores individualmente.
O analista pleno da Caixa Econômica Federal Flávio Andrade de Oliveira não pensa duas vezes: há quatro anos soma o extra ao décimo terceiro e vai conhecer o mundo. Com a remuneração de 2007, vai à Europa pela segunda vez, agora em maio. Em setembro, quer ir a Nova York.
- Há quatro anos eu só viajo. Gasto todo o meu décimo quarto salário com esse prazer - conta Oliveira, que receberá R$5 mil como PLR de 2007 até março.
Prática também cresce no varejo
Outros setores estão ampliando a concessão do benefício. Levantamento da consultoria Deloitte Touche mostra que, em média, e se cumprirem 100% das suas metas, as empresas vão pagar 2,16 salários para os cargos de gerência a título de PLR em 2007, também 20% mais do que desembolsaram no ano anterior (1,8 salário). Nos demais cargos, a intenção é dar 1,4 salário para os funcionários com grau universitário - alta de 16,7% sobre o 1,2 de 2006 - e 1,2 salário para aqueles sem nível superior (aumento de 7,14% sobre o 1,12 do ano anterior).
- Grande parte dos segmentos foi bem. As empresas devem atingir ou até superar suas metas - prevê o gerente-sênior da área de capital humano da Deloitte, Fábio Mandarano.
Um exemplo concreto da adesão dos empregadores ao sistema de compartilhamento vem do parque industrial fluminense. De acordo com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), 55,2% das empresas filiadas à entidade informaram em recente pesquisa que vão pagar PLR sobre os ganhos de 2007, quase 15% mais do que o verificado no ano anterior (48,8%).
O varejo também começa a expandir a prática. Segundo o presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio, Otton Roma, por enquanto apenas entre 10% e 15% das empresas do ramo - normalmente as de grande porte, como as redes - pagam participação nos lucros aos funcionários. Em média, equivalente a um salário do trabalhador. Mas o ritmo de crescimento vem sendo intenso. Só em 2007, a expansão foi de 25% em relação ao ano anterior.
Roma acredita que o ritmo será mantido nos próximos anos. Em São Paulo, a percepção é a mesma.
- Vai mais do que triplicar o número de empresas que pagarão PLR neste ano - acredita o presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah, cuja base é formada por cerca de 450 mil empregados em 90 mil empresas.
Sobre os resultados de 2007, acrescentou ele, apenas mil empresas pagarão décimo quarto salário, o que dá cerca de R$20 milhões.
No ABC paulista, onde concentram-se grandes montadoras e fabricantes de autopeças, o décimo quarto salário também virá maior, na carona das vendas históricas do setor automotivo. De acordo com o sindicato dos metalúrgicos da região, só nas quatro fábricas de veículos instaladas lá, o pagamento médio passou de R$5,2 mil para R$5,9 mil a cada trabalhador - 15% a mais.
Cláudio Miranda, operador multifuncional de uma fabricante de máquinas em São Bernardo do Campo, conta que usou o seu décimo quarto salário de 2007, de R$2,2 mil, para reformar a cozinha da sua casa. Ao todo, recebeu R$500 a mais do que em 2006. Ele acredita que, este ano, novamente receberá mais:
- A produção e as vendas de 2008 começaram em alta - comemora.
O Globo

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