quinta-feira, 13 de março de 2008

Escolaridade e emprego

O mercado formal de trabalho passa por transformações seguidas, em razão do aquecimento da economia, com maior oferta de empregos e aumento da renda auferida pelos assalariados. Tanto as estatísticas do IBGE como as análises setoriais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) confirmam essas tendências.

Os avanços convivem, ainda, com resquícios do trabalho escravo nas regiões agrícolas mais isoladas; com a oferta de postos de trabalho aquém da mão-de-obra disponível, e com o descompasso entre profissionais qualificados amargurando o desemprego. Paralelamente, há segmentos produtivos com carência de pessoal qualificado.

O descumprimento da legislação trabalhista, em muitos casos, resulta da cultura atávica de não se levar em conta as exigências formais e onerosas do emprego. O Ministério Público do Trabalho vem combatendo o desrespeito às leis laborais, de modo especial, na área rural, há bem pouco tempo precariamente fiscalizada.

Como se não bastassem os problemas causados pelas empresas rurais nacionais, o hábito está se irradiando pelos empreendimentos multinacionais voltados para a exploração de biocombustíveis. Um grupo móvel do Ministério do Trabalho localizou em Mato Grosso e Goiás pelo menos 1.500 trabalhadores contratados por uma empresa estrangeira convivendo em condições degradantes.

Essa multinacional, estabelecida apenas um ano no Brasil, planeja investir US$ 2,3 bilhões na construção de dez usinas para produzir 3,8 bilhões de litros de álcool combustível por ano. Seus mercados supridores seriam a Europa, os Estados Unidos, a China e o Japão. A precariedade nas condições de trabalho e do alojamento seria de responsabilidade dos intermediários na contratação da mão-de-obra. Mesmo assim, três ações civis públicas foram promovidas contra a empresa infratora.

Os trabalhadores, flagrados em condições humilhantes, foram recrutados no Ceará, Piauí e Maranhão para o corte da cana destinada à produção do álcool. As denúncias de trabalho escravo foram comprovadas pelo Ministério Público do Trabalho em Campo Alegre de Goiás e Mineiros (GO) e em Alto Taquari (MT), procedendo-se o resgate dos grupos aliciados por “gatos” e o fornecimento de passagens de retorno às suas cidades de origem.

Essa faceta do trabalho rural decorre do pouco acesso dessa mão-de-obra avulsa aos centros de treinamento e de especialização. Nesse segmento, o campo pouco evoluiu. Mas onde o sistema de produção foi mudado, a mecanização liberou os trabalhadores.

As mudanças estão intrinsecamente ligadas à educação. Avaliando a base de dados levantados pelo IBGE, o Ipea constatou uma realidade em 2007: trabalhadores com mais de onze anos de estudo se apropriaram de 67 mil vagas antes destinadas a pessoas com menor escolaridade. Comprovou, ainda, ser a mão-de-obra pouco qualificada um fenômeno em extinção. Não se duvida, pois, que o fim dessa forma de escravização se dará quando todos os trabalhadores tiverem acesso à escola.

Diário do Nordeste

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