quarta-feira, 21 de maio de 2008

Desemprego entre jovens é 3,5 vezes maior

PESQUISA
Estudo do Ipea mostra que 46,6% dos desocupados no país têm entre 15 e 24 anos. Dificuldade para entrar no mercado atinge todas as classes

Ser jovem no Brasil está cada vez mais complicado. Estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que o desemprego entre as pessoas de 15 a 24 anos é 3,5 vezes maior que o da população considerada adulta, ou seja, acima de 25 anos. Do total de desempregados brasileiros, 46,6% são jovens, maior proporção entre os 10 países pesquisados. No México, a relação é de 40,4%; na Argentina, de 39,6%; e na Alemanha, de 16,3% (veja quadro).

O desemprego elevado entre a população mais jovem é um fenômeno global. No Brasil, a taxa é de 19%, uma das maiores. Perde apenas para Argentina e Itália, ambas com 24%; e França, Suécia e Alemanha, onde o indicador atinge 23%, 22% e 20%, respectivamente. No México, o índice é de 7%. No estudo Juventude e políticas sociais no Brasil, o Ipea considera o desemprego juvenil um problema social.

As dificuldades enfrentadas por essa parcela da população não atingem apenas aqueles de baixa qualificação profissional. Segundo a pesquisa, as estatísticas recebem uma dura contribuição da falta de abertura de novos postos de trabalho. “Melhorar as habilidades dos jovens provavelmente não lhes garantirá um espaço maior no mercado de trabalho”, diz o estudo. A crítica feita pela análise do Ipea, no entanto, não tira a importância das políticas públicas desenvolvidas para esse grupo de trabalhadores. De acordo com o instituto, há exemplos de boas iniciativas que combinam formação profissional prévia, encaminhamento ao mundo do trabalho, contratação incentivada e aprendizagem no cargo assumido.

Graças a essas alternativas oferecidas pelo mercado, Rafael Reis dos Santos, 22 anos, conseguiu seu primeiro emprego. Tentou um posto por quatro meses até ser aprovado em processo seletivo para repositor de mercadorias de um hipermercado de Brasília. “Em toda entrevista que eu ia me pediam experiência”, conta. “Como ia ter experiência se nunca me davam uma primeira chance? Ninguém nasce sabendo”, reclama o morador de São Sebastião, que cursou até o ensino médio.

Mesmo sem dinheiro, Rafael nunca deixou de procurar emprego. Contava com a ajuda financeira da mãe e da namorada para pagar as passagens e lanche. “Gastava em média de R$ 6 a R$ 8 por dia”, recorda. Hoje, apesar de estar trabalhando, ele sabe que o mercado é incerto. “Por isso estou fazendo um curso de auxiliar administrativo, que me dará mais qualificação”, diz. “Hoje, quem não tem experiência, logo é descartado do mercado”, pondera.

Ao contrário de Rafael, o estudante do terceiro ano do ensino médio Rodrigo Paiva, 18, procura uma vaga há dois anos. Segundo ele, a falta de experiência e o curto período de duração dos estágios atrapalham na hora de conseguir uma vaga no mercado de trabalho. “Saio de um estágio para o outro e não consigo emprego. É complicado”, conta o morador de São Sebastião, que usa o tempo livre para se preparar para o vestibular da Universidade de Brasília (UnB).

Rodrigo quer cursar engenharia mecânica. Se conseguir atingir seu objetivo, ele será mais um entre os 12,6% dos jovens matriculados no ensino superior no Brasil, número ainda inferior à meta do Plano Nacional de Educação (PNE) coordenado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) (leia matéria na página 15).

Tempo de estudo
Para Jorge Abrahão, diretor de estudos sociais do Ipea e um dos coordenadores da pesquisa, o acesso à educação não é o problema central enfrentado pelos jovens apesar de ainda haver um resquício de analfabetismo (2,3%). Segundo ele, a freqüência nas escolas não é mais uma dificuldade encontrada pelos jovens em geral. “Mas o que se questiona é a qualidade dessa educação oferecida. Isso sim precisa melhorar”, afirma o especialista.

O estudante do segundo ano do ensino médio Deivison Rodrigues dos Santos, 17, nem começou a procurar emprego e já teme pelo que encontrará pela frente. “Meu estágio acaba em novembro. Depois disso, é procurar emprego”, revela. Ele espera ter uma sina diferente da irmã que, aos 24 anos, não acha uma vaga de trabalho. “Ela procura emprego há um ano, mas nunca consegue”, conta. Caso não encontre um posto, Deivison tem uma alternativa: “Vou procurar emprego até quando fizer 18 anos. Se não conseguir nada, penso em servir no Exército, que não exige experiência”, diz o morador de Brazlândia. Essa pode ser a única alternativa para aqueles que, mesmo com um diploma do ensino médio, não têm acesso aos postos de trabalho no Brasil.

Correio Braziliense

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